Onde está o corpo de Jesus?
Com surpresa, Maria descobre que o túmulo está aberto e vazio; os panos que cobriram o corpo de Jesus estavam lá dentro, uns pelo chão e outros, dobrados num lugar à parte. Ela se desespera: Quem levou o corpo de Jesus! Onde o puseram? Correu e foi avisar Pedro e João. Os dois correram ao túmulo e viram que era assim mesmo: o corpo de Jesus não estava mais lá. Onde será que foi parar? Quem o teria levado?
Eis a primeira constatação a respeito da ressurreição de Jesus: o túmulo vazio, o lençol mortuário abandonado. E Jesus mesmo, onde estava? Para alguns, tudo o que se fala sobre a ressurreição de Jesus não passa disso e acaba na dúvida: sumiram com o corpo de Jesus? Talvez ele mesmo nem tinha morrido, acordou durante a noite, saiu do túmulo, de fininho, sumiu sem deixar pista? Alguém até disse que sabia onde Jesus foi parar: em algum oásis bonito no deserto distante; lá, finalmente casado com Maria Madalena, teria vivido em paz e morrido de velho, sem mais ser incomodado, nem incomodar ninguém... Historinhas, como essa, já inventaram nos primeiros tempos do Cristianismo aqueles que negavam a ressurreição de Jesus. Hoje há quem as ache bonitas e as reconta como se fossem a última verdade sobre Jesus!
Onde foi parar o corpo de Jesus, se não estava mais no túmulo? Vamos ouvir Maria Madalena, João e Pedro, os outros apóstolos, Tomé, por exemplo; sem esquecer de ouvir Paulo. Eles até esqueceram o túmulo vazio, os panos mortuários... É que Jesus, em pessoa, foi ao encontro deles! Estava vivo e lhes falava de novo, nem podiam acreditar! Duvidaram, resistiram, negaram-se a crer no que viam diante de si e ouviam com seus ouvidos. Mas era Jesus, o mesmo que eles tinham conhecido antes e acompanhado durante anos, cujas pregações e prodígios testemunharam! O mesmo que eles viram ser condenado à morte de cruz, poucos dias antes! Por que agora lhes custava tanto crer, que era ele? Vieram-lhes à mente suas próprias traições do Mestre? Suas fugas e covardias diante da prisão e condenação de Jesus à morte?
Mesmo não querendo crer, não puderam negar: era mesmo Jesus, que estava diante deles. Viram e creram E Jesus lhes falou, abriu-lhes o entendimento, deu-lhes a paz, não lhes cobrou nenhuma de suas infidelidades. E eles se alegraram muito “por ver o Senhor”. E contaram para quem faltou aos encontros: “vimos o Senhor. Simão também viu!”. E concluíram que até as histórias contadas por Maria Madalena e suas companheiras eram verdadeiras (testemunho de mulher não contava!); foram as primeiras que encontraram o Senhor ressuscitado!
Hoje andam dizendo por aí que o Santo Sudário, de Turim, seria considerado, “pelos crentes, a relíquia mais valiosa e legítima da Cristandade”; e também, que o Sudário teria sido o trunfo inicial mais poderoso para afirmar a fé na ressurreição de Jesus; e que a posse e referência ao Sudário teria tido um papel decisivo na grande difusão inicial do Cristianismo; mesmo ao longo dos séculos, ele teria sido uma espécie de garantia para afirmar a ressurreição de Jesus... Isso não é verdade! A história não confirma essas suposições, em cima das quais constroem-se argumentos e raciocínios que, geralmente, acabam concluindo que a fé dos cristãos na ressurreição de Jesus é pura fantasia, que deve ser descartada por pessoas inteligentes e sérias, com formação científica moderna!
E se fosse demonstrado definitivamente que o Santo Sudário é uma falsificação? Acabaria nossa fé na ressurreição? A resposta é: não! Nossa fé em Cristo ressuscitado não está baseada no Santo Sudário, por mais preciosa relíquia que possa ser. Nossa fé em Cristo ressuscitado está baseada nos encontros – vários encontros – do próprio Jesus ressuscitado com seus discípulos, como nos atestam os testemunhos do Novo Testamento. Esta fé foi contestada desde o início, negada, sofrida, em todas as épocas da história; não apenas agora. Mas a Igreja nunca abandonou o testemunho daqueles que viram Jesus!
A ressurreição de Jesus, porém, não é um fato isolado na pregação dos apóstolos. O anúncio do Senhor ressuscitado, unido à recordação de toda a vida, pregação, prodígios, do jeito de Jesus, da sua paixão, morte e sepultura, constituem o objeto do “testemunho apostólico”. É sobre esse testemunho apostólico que está baseada a fé da Igreja. A esse conteúdo também está referida a nossa fé, que renovamos mais uma vez na noite da Páscoa. Como fazemos em cada Domingo, Dia do Senhor ressuscitado, continuando a proclamar: Ele está vivo, no meio de nós!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Fonte: CNBB